segunda-feira, 19 de outubro de 2020

F(r)ICÇÕES

 
Naquela 3ªfeira
(1971) o Tó Avelar fez gazeta. No grupo de estudo ficámos apenas nós dois: eu e Teresa Belmonte, tentando, desesperadamente, tarde adentro, melhorar os conhecimentos vendidos pelos mestres da computação IBM durante as aulas semanais de Lógica Aplicada, RPGII, FortranIV e Assembler, cujo exame final seria daí a três dias.
Noite feita, infalivelmente, surgiu "o que vamos jantar?"; e, infalivelmente também, a proposta gasta de "vamos ali ao Noite & Dia picar qualquer coisa".
Cumprido o snack, caminhámos em silêncio, Duque de Loulé acima,
(eu) sem vislumbrar alternativa ao Mah-Jong com que (a três) sempre findávamos o dia de estudo. De repente atirei: 
- Que andas a ler, Teresa?
- Ficções de Jorge Luís Borges
(suficientemente espanholado), conheces?
- Não, mas parece ser autor espanhol, não?
- Argentino, muito bom. Queres conhecê-lo? Vamos lá a casa. Vais gostar! 
E fui.
E gostei. Não do livro, porque acordei, às duas ou três da madrugada, com ele a magoar-me as costas nuas. Gostei dos argumentos da sua leitora e, principalmente, da forma desafiante com que, então, me que confrontou:
 - ¿te gusta? (suficientemente espanholado)
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(É claro que, anos mais tarde, conheci, de facto JLBorges, lendo as suas "Ficções". Mas hoje, passei por "ele" num escaparate e não resisti. Trouxe-o para uma leitura mais atenta - como são sempre as releituras. Borges merece-o. Teresa Belmonte, também!)


 

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