terça-feira, 2 de março de 2021

Ode assimétrica à Papôa

Há dezenas de anos que por aqui passo, dia sim dia não, ou nem tanto, ou talvez não...
Cruzei com gente de todo o lado: fina, grosseira, ordinária, delicada, brejeira, nacional ou estrangeira.
Assisti ao nascer e ao pôr do sol,  senti ondas e marés de todos os tamanhos; olhei gaivotas, corvos, galhetas e pássaros estranhos.
Senti trovoadas, ventanias, chuvadas e noites frias.
Mirei o céu azul ou verde-mar, pelei em dias solarengos de queimar.
Vi polícias, topei ladrões, gritei aos bandidos das infrações.


Aqui nunca cheguei a tempo de salvar quem correu prá morte, mas irritei-me com muitos dos que dela troçam, e da sorte.
Por aqui já vi fazer o amor, ou rezar a deuses e macumbeiros. Inspirei guanos, perfumes e cheiros.
Notei gente cansada do seu dia, ou grata pelo que a noite lhe deu - sem agonia.
Há dezenas de anos que por aqui passo e, nunca como hoje, senti o enorme vazio desta paisagem. 
Então, curiosamente, lembrei-me que aqui nunca vi ninguém chorar.
                                                                             Por isso chorei eu!



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