A comemoração de hoje tem um colaborador porque era assim que queria celebrar a efeméride e dentro da minha jornada "on line" não encontrei texto que melhor ilustre a Vida, neste caso uma vida que começou há trinta e seis anos.
"Viver é uma peripécia. Um dever, um afazer, um prazer, um susto, uma
cambalhota. Entre o ânimo e o desânimo, um entusiasmo ora doce, ora dinâmico e
agressivo.
Viver não é cumprir nenhum destino, não é ser empurrado ou rasteirado pela
sorte. Ou pelo azar. Ou por Deus, que também tem a sua vida. Viver é ter fome.
Fome de tudo. De aventura e de amor, de sucesso e de comemoração de cada um dos
dias que se podem partilhar com os outros. Viver é não estar quieto, nem
conformado, nem ficar ansiosamente à espera.
Viver é romper, rasgar, repetir com criatividade. A vida não é fácil, nem
justa, e não dá para a comparar a nossa com a de ninguém. De um dia para o
outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem sentíamos
antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde.
Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar,
acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma sala de aula onde todos somos
professores, onde todos somos alunos. Viver é sempre uma ocasião especial. Uma
dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que nos acontecem têm sempre uma
impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos mas não se
contenta com a contemplação. Ela exige reflexão. E exige soluções.
A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é
doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as
respostas. Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das coisas
divertidas.
Joaquim Pessoa, in "Ano
Comum".
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