segunda-feira, 19 de junho de 2017

Porque tenho vergonha

Por muito que queira, não consigo abster-me de comentar o fatídico incêndio de anteontem em Pedrogão Grande, que culminou com a tragédia humana a que ninguém ficou insensível.
Não o faço por discordar das (legítimas) opiniões dos peritos de protecção civil, engenharia florestal, comunicações, administração interna, política de ordenamento, etc., em que, de repente, milhares de portugueses - muitos deles também, habitualmente, experts em economia, finanças, futebol e religião - se tornaram.
Quanto a mim o diagnóstico sobre esta problemática dos incêndios florestais está mais que feito - todos os actores envolvidos sabem bem os "porquês" e as "por consequências" desta actividade económica sem código (CAE).
Se quisermos ser sérios, até nós próprios, inconscientemente ou não, por vezes, contribuímos (em escala aparentemente desprezável) para esse flagelo com comportamentos inadequados, infringindo avisos, leis e editais.
E então?
Então? a verdade é que, em Portugal, principalmente no Verão, desde há não sei quantas décadas, o incêndio florestal faz parte. É quase como que um desígnio nacional; um fatalismo que, anualmente, nos custa milhares de hectares de área florestal, milhões de €uros em subsídios de reinstalação e gastos com pessoal e equipamentos e, infelizmente, a vida de algumas pessoas. 
E é aqui que Pedrogão Grande mexe com todos nós; em pouquíssimas horas sessenta e dois mortos (até ver) e cento e quarenta feridos é um preço demasiado alto, vergonhosamente inaceitável para um país moderno e civilizado.
É esta irracionalidade que está a dar cabo de nós. É esta vergonha colectiva, que todos nós queremos limpar da consciência. Por isso as opiniões, os donativos, as petições, os likes, os comentários, a nomeação arbitrária de culpados, a bandeira a meia haste, enfim... tudo serve para a catarse de um povo que teima em aceitar destes fados como Destino.

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