"Naquele tempo" a maioria dos mancebos portugueses à volta dos vinte
anos tinha duas hipóteses de viver os 3 (...) anos seguintes: ou ia
à tropa ou não ia. Se fosse à tropa, tinha 99% de hipóteses de ir
à guerra (colonial).
Uma
das soluções foi recusar o registo no sistema militar e emigrar
clandestinamente. A outra - como a dos objectores de consciência
política que, discordantes de guerras, e, especialmente, da guerra
colonial, também emigraram clandestinamente, antes mesmo de vestirem
a farda.
Entretanto,
o "sistema" criou malabarismos para abrir excepções à
dura regra do serviço militar obrigatório para todos, passando-o
para serviço militar obrigatório para todos os que não tinham
arte, engenho e/ou cunha$. Surgiram então os alistamentos
voluntários na marinha mercante, nos socorros a náufragos, na
mocidade portuguesa, na legião portuguesa, na cruz vermelha, etc,
etc,.
Depois
houve os outros: os que não se safaram da tropa e que tinham (uns
mais que outros, naturalmente) cagaço de ir à guerra colonial.
Desses,
diz-se que, à volta de oito mil terão tido a coragem de desertar
por “discordarem da guerra colonial” optando pelo exílio
político no estrangeiro.
Os
restantes oitocentos mil "cobardes metropolitanos" foram ao
ultramar (ou colónias) defrontar o que mais temiam: a morte. Nove
mil perderam imediatamente; catorze mil regressaram fisicamente
mutilados, cento e quarenta mil ainda hoje não sabem muito bem
porque choram...
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