quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Não se nasce herói

"Naquele tempo" a maioria dos mancebos portugueses à volta dos vinte anos tinha duas hipóteses de viver os 3 (...) anos seguintes: ou ia à tropa ou não ia. Se fosse à tropa, tinha 99% de hipóteses de ir à guerra (colonial).
Uma das soluções foi recusar o registo no sistema militar e emigrar clandestinamente. A outra - como a dos objectores de consciência política que, discordantes de guerras, e, especialmente, da guerra colonial, também emigraram clandestinamente, antes mesmo de vestirem a farda.
Entretanto, o "sistema" criou malabarismos para abrir excepções à dura regra do serviço militar obrigatório para todos, passando-o para serviço militar obrigatório para todos os que não tinham arte, engenho e/ou cunha$. Surgiram então os alistamentos voluntários na marinha mercante, nos socorros a náufragos, na mocidade portuguesa, na legião portuguesa, na cruz vermelha, etc, etc,.
Depois houve os outros: os que não se safaram da tropa e que tinham (uns mais que outros, naturalmente) cagaço de ir à guerra colonial.
Desses, diz-se que, à volta de oito mil terão tido a coragem de desertar por “discordarem da guerra colonial” optando pelo exílio político no estrangeiro.
Os restantes oitocentos mil "cobardes metropolitanos" foram ao ultramar (ou colónias) defrontar o que mais temiam: a morte. Nove mil perderam imediatamente; catorze mil regressaram fisicamente mutilados, cento e quarenta mil ainda hoje não sabem muito bem porque choram...


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