Isabel Moreira, num curto, mas excelente artigo sobre a hipocrisia que contamina o actual movimento (da direita ressabiada e seus pares) a favor do direito à objecção de consciência relativamente ao tema Educação para a Cidadania, escreveu ontem no Expresso: "ainda sou do tempo em que a escola me obrigava a frequentar as disciplinas clássicas e a frequentar a escola da vida, essa que me dizia, sem contraditório, dos “maricas”, dos paneleiros”, das “putas” que se punham a jeito, do “ homem não chora “, do “preto da Guiné“, do “cuidado com o cigano“, do “não sejas judeu“, a escola do eu e os outros".
E eu, aluno da mesma escola, em vez de aí aprender (p.e.) a ler Redol, Natália Correia ou Sartre, a ouvir Zeca Afonso, Baez ou Ferré e a ver Macedo, Godard ou Buñel, ainda fui obrigado a frequentar uma formação criada à imagem e semelhança da praticada pelas ditaduras recém vencidas pela Democracia, baseada no pensamento único de um chefe único, em nome e a bem do seu Estado.
Como se tanto não bastasse, pecadores como eu catequizavam-me com o medo pelo pecado da carne - "pensado ou cometido era indiferente, merecia castigo" - diziam...
Por tudo isto, tardiamente e à minha custa, percebi que havia (muito) mais vida para além daquela programada pela estranha triologia do "Deus, Pátria e Família" tão redutora quanto salazarenta.
Tardiamente, é certo - graças à família, aos amigos e a mim próprio - aprendi a puder fazer escolhas, fugindo às unicidades educacionais a que o Estado, enquanto seu principal instituidor, me obrigou.
Um pouco tardiamente aprendi a pensar, a escolher e a, bem ou mal, decidir; mas, portanto, completei o teorema: Existo!
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