domingo, 26 de abril de 2009

Onde é que estavas em 26 de Abril ?

Há 35 anos eu estava onde, precisamente, esta hora do dia se chamava "hora sexual". Durante duas horas tinha de estar pronto para a acção, pois, se elas viessem, não podia estar desprevenido: tinha de reagir imediatamente, caso contrário, era o fim ...
Estava em Chugué, na vala de acesso ao meu abrigo de guerra (um buraco no solo com um tecto de quatro toros de árvore pau sangue), aguardando vigilante que passassem as duas horas de prevenção total - cumprindo as regras militares e as do bom senso, face à permanente iminência de ataques e bombardeamentos das tropas do PAIGC na zona do Tombali - Guiné Bissau.
Posto o sol, a descompressão ia ganhando ânimo entre aquele monte de gente de morte encomendada. O meu hábito de tentar saber notícias pelas ondas curtas da rádio teve sorte. Numa emissora de lingua francesa consegui ouvir as notícias do meu país.
Assim que as percebi (sabedor que já era do Março em Caldas da Rainha) gritei para a minha gente: "pessoal, há reviravolta em Lisboa, parece ser coisa grande, se calhar, vamos saír daqui com vida..."
Depois, seguiram-se horas angustiantes tentando confirmações por todas as ondas da rádio, por tudo quanto eram comunicações militares. A cinco minutos da meia-noite, finalmente, o Menezes dos fuzileiros "abriu o livro" na primeira página: o 25 de Abril e o MFA foram sucintamente explicados e assim resumidos: "a guerra vai acabar, vamos pra casa !"
E, mesmo sem o cessar fogo ordenado, para todos nós, os de infantaria, de artilharia e fuzileiros que ali estávamos, a partir desse dia: "guérra cába pâ nôs".

1 comentário:

Anónimo disse...

bó ká tem cabeça.