quarta-feira, 28 de setembro de 2011

As barr(a)(i)cadas revolucionárias

Costumo dizer que o meu primeiro encontro com o Portugal de Abril foi em Setembro, mais precisamente em 28 de Setembro de 1974 - o dia em que regressei da Guiné.
Até então, a "revolução dos cravos" - com o fim da guerra colonial, tinha-me  APENAS recuperado para a vida, ou, melhor, tinha posto fim à minha morte anunciada.
Depois de ter vivido cinco meses num ambiente em que ex-inimigos  enterravam ódios antigos procurando entender-se, foi-me difícil perceber, logo no dia que cheguei à mãe-pátria, como ex-amigos, pela suspeição, denuncia gratuita e provocação se hostilizavam mutuamente, criando novos ódios.
A viagem desde o aeroporto da Portela no carro da família tinha corrido sem incidentes, mas quando, cerca das dez da noite, cheguei a uns cinquenta metros dos portões de Peniche-de-cima fui barrado por duas lanchas atravessadas na estrada e uma pequena comissão de conhecidos penicheiros, civis e militares, revolucionários (naquele tempo, quem não era?) que me convidaram a saír do automóvel, a abrir o porta-bagagens e as duas malas de viagem que trazia de Bissau.
Apesar de nos termos reconhecido (fôramos colegas de escolas) e de lhes ter explicado porque vinha fardado e donde vinha, o facto de trazer comigo 3 balas de G3, uma faca de mato, uma catana e um punhal de kalashnikov foi motivo para ofensas e ameaças de dois grandes revolucionários desta terra - profissão que adoptaram até hoje. Valeu na altura o aparecimento de um graduado  militar que, depois de me fazer a devida(?) saudação militar, ouviu a minha versão, deu-me um abraço e mandou que a barricada me deixasse ir em paz.
E fui, até hoje!

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