“...regresso no mesmo dia em que sou contactada por um jornalista da Sábado para uma entrevista. Já não é a primeira vez que sou contactada para o efeito, mas é a primeira vez que antevejo exactamente o tipo de artigo e de informação que o jornalista pretende publicar.
Na sequência do pseudo-escândalo com o site Momentos de Prazer noticiado pelo correio da manhã, a Sábado está a preparar para a edição desta quinta um artigo sobre acompanhantes de luxo. Ou seria?
Não, de facto o artigo não me parece que pretenda ser sobre as acompanhantes de luxo, mas sim sobre os seus clientes. Numa primeira abordagem o jornalista afirmou pretender que o ajudasse a traçar um perfil dos clientes, algo de abstracto penso eu ingenuamente. Digo-lhe que esse é um tema para tese de doutoramento, aliás já em fase de elaboração.
O jornalista não se consegue conter e ataca directamente com as perguntas que seguramente já lhe queimavam a garganta – Tem clientes famosos? Juízes, personalidades da televisão, políticos….? Faz festas de luxo? Tem alguma agência que organize encontros?
Tentei explicar que sou independente, mas não estava interessado. Na maioria dos casos os jornalistas têm a certeza sobre aquilo que querem escrever e não estão propriamente à procura de informação. Procuram sim uma confirmação daquilo que já têm em mente.
Tentei também explicar que os sites de anúncios, quando disso apenas se tratam são inócuos e constituem uma boa opção para as anunciantes.
Demonstra um interesse medíocre por aquilo que lhe estou a explicar e insiste novamente com os famosos.
Esclareci o repórter que do ponto de vista deontológico jamais poderia dar esse tipo de informação. Mesmo não revelando nomes, apenas revelar a actividade pela qual a pessoa é famosa, já implica que a mesma se reveja na entrevista o que seria extremamente desagradável e a quebra de um contrato de confiança entre mim e o cliente.
Mas é o circo. O circo mediático, aquilo que importa.
Não interessa para esta história a rede de lenocínio, auxilio à emigração ilegal ou sequer o alegado tráfico de drogas descobertos pela PJ, o que interessa é chafurdar na vida privada dos clientes e expô-los na praça pública enquanto frequentadores de acompanhantes.
É incrível como é possível inverter todo um acontecimento e corrompê-lo numa notícia, que apenas noticia o assessório.
Mas afinal neste caso, o que é realmente importante?
Facto: Existem acompanhantes
(como sempre existiram e como sempre hão-de existir)
Facto: Existem clientes para essas acompanhantes
(uns mais anónimos, outros mais públicos ou mediáticos)
Agora gostaria que me explicassem em que medida estes dois factos constituem uma notícia.
Na minha opinião em rigorosamente nada.
Trata-se de mais uma tentativa de que as pessoas se sintam bem na sua mediocridade pela lavagem de roupa na praça publica, de figuras com alguma notoriedade.
É apenas circo. Pão e circo para o povo. E como o pão escasseia nestes tempos de PEC III…Ficamos só com o circo."
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