Havia dias (e muitas noites) que a vizinhança se mostrava desconfortável com a situação.
O chão e a parede que estremeciam às vezes, com o que parecia ser brutalidade imprópria entre quatro paredes. Aqueles sons ritmados e cíclicos que duravam minutos e minutos sem parar. Havia até quem, meio escandalizado, comentasse:
-Aquilo não é humano! Coitada da rapariga! O que ela deve sofrer!
Cruzavam-se com ela na escada e com aquele olhar meio consternado meio solidário arriscavam :
-Nem sei como resiste!
Ela meio envergonhada sorria e respondia :
-Desculpem o barulho, mas às vezes não resisto! Custa-me incomodar mas sabem que há necessidades das quais não consigo abdicar!
Sabiam-na em casa logo que voltava aquele reboliço sem hora, aquelas batidas na parede e no chão.
A vizinhança mais assanhada comentava em voz baixa:
-Aquilo deve ser cá uma máquina. É que não pára! Anda ali naquele ronhónhó, depois dá-lhe aquelas fúrias e volta ao mesmo e … não pára! Não há-de a moça andar cansada!
Um dia todo aquele frenesim, como que por milagre, parou. Cruzando-se com ela na escada arriscaram a pergunta :
-Não é fácil, pois não, ter uma coisa assim em casa? Precisava talvez de descansar!?
Ela, gentil respondeu:
-Oh! Que se há-de fazer! Foi bom enquanto durou! Agora, por uns dias, vai ter que ser à mão!
Que escândalo !
Afinal que se passara de tão dramático? Seria doença? Esgotamento? Então ela sentia a falta? E à mão? Isso não parecia correcto !
-Oh minha querida! Desculpe a pergunta mas … foi grave? Precisa de ajuda?
Por momentos vacilou mas acabou por suspirar :
-Kaputt! Gripou o motor! Conhecem algum técnico de máquinas de roupa? É que o inverno está à porta e a centrifugação e secagem fazem tanto jeito…
(Net - Autor desconhecido)
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