quinta-feira, 9 de abril de 2020

Épico ma non troppo

Em tempo de vivências sob o capricho de um (vírus) fdp que a todos infecta de forma tão violenta quanto desesperante, aqui deixo a minha proposta de audição de "O Fortuna" - uma peça da ópera(...) Carmina Burana, a cuja tradução só hoje cheguei, levando-me, também ela,  à tese da estrita ligação do azar e da sorte ao poder inescapável do destino.  

O Fortuna *

velut luna statu variabilis,
semper crescis aut decrescis;
vita detestabilis
nunc obdurat et tunc curat
ludo mentis aciem,
egestatem, potestatem
dissolvit ut glaciem.

Sors immanis et inanis,
rota tu volubilis, status malus,
vana salus semper dissolubilis,
obumbrata et velata
mihi quoque niteris;
nunc per ludum dorsum nudum
fero tui sceleris.

Sors salutis et virtutis
mihi nunc contraria,
est affectus et defectus
semper in angaria.
Hac in hora sine mora
corde pulsum tangite;
quod per sortem sternit fortem,
mecum omnes plangite!
Ó Sorte!

és como a Lua mutável,
sempre aumentas e diminuis;
a vida detestável
ora oprime e ora cura
para brincar com a mente;
a miséria, o poder,
ela funde-os como gelo.

Sorte imensa e vazia,
tu – roda volúvel – és má,
vã é a felicidade sempre  dissolúvel, nebulosa e velada
também a mim contagias;
agora por brincadeira
o dorso nu entrego à tua
perversidade.

A sorte na saúde e virtude
agora é-me contrária.
dá e tira
mantendo sempre escravizado.
nesta hora sem demora
tange a corda vibrante;
porque a sorte abate o forte,
chorais todos comigo!

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