Maria do Oi nunca tinha sentido tamanha e ininterrupta dor no peito: o coração parecia cravado por um ferro.
Por isso, naquele final de manhã de sexta-feira, antecipou o banho semanal dos domingos, vestiu pela enésima vez a roupa das festas da Nª Senhora do Carreiro, calçou os sapatos usados, oferecidos no Natal pela dona Gisa, e foi à procura do seu “médico da Caixa”.
- “O quê? médico a esta hora? já lá vai em fim-de-semana… agora só segunda-feira, e é se tiver vaga !” – informou a funcionária da “Caixa” aconselhando-a, entretanto, a ir à urgência do hospital.
Maria seguiu o conselho e, passadas duas horas, diagnosticada a “doença dos gases” saiu do hospital com uma receita de anti-flatulentes para aviar na farmácia.
Chegada a casa, espreitou para dentro do saleiro: nem sal, nem dinheiro… e o aperto que não passava …
Procurou, sem resultado, uns trocados nos bolsos do marido - que jazia bêbado na cama.
Então, sentindo um sono estranho que a levava para longe da dor, deitou-se ao lado do companheiro, fechou os olhos lembrando os filhos: o Totas – que àquela hora andaria a manobrar o estacionamento de automóveis nos parques e a Necas que, provavelmente, “curtia uma dose de cavalo” comprada com o corpo num qualquer quarto da pensão manhosa.
“Coitados, aqueles desgraçados só descansam ao domingo!” – foi o seu finado pensamento.
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