sábado, 25 de setembro de 2010

Chez Pilão

"Ó Matos, ó Pires, são quatro da manhã e o pessoal do PAIGC está furioso a bater à porta, pá!"
"Tá no ir. Vamos pela janela, goss goss!"

Foi esta, em 25 de Setembro de 1974, a última ordem que dei na tropa.
Poucos dias antes, tinhamos concluído as árduas negociações do campo de minas de Bissau com o PAIGC. A minha CCAÇ. 4747 estava praticamente em casa e eu só daí a três dias é que teria hipótese de pegar boleia no voo TAP-qualquer-coisa e saír dali para fora.
Por isso, na noite anterior, depois do jantar - esquecendo completamente que se festejava por toda a cidade o aniversário da Independência da Guiné Bissau - realizámos o briefing da "operação Pilão" na esplanada do Solmar(?), passámos pela boite "Chez Toi" onde iniciámos as hostilidades com as as nossas conhecidas europeias.
Depois, já em pleno bairro Pilão, bem despreocupados, percebemos finalmente o que aquela África tinha de melhor: a sua mulher.
E ali estivemos, durante as quatro ou cinco horas mais emocionantes daquele terrível ano
, sem medos civis ou receios militares.
Até chegarem os outros... os da casa.
(Pintura de Augusto Trigo)

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