terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Poematemático

Às folhas tantas do livro matemático um Quociente apaixonou-se um dia
doidamente por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável e viu-a do ápice à base uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide, corpo rectangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida paralela à dela até que se encontraram no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram (o que em aritmética corresponde
a almas irmãs) primos entre si.
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação
traçando ao sabor do momento e da paixão rectas, curvas, círculos e linhas sinoidais nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar constituir um lar, mais que um lar, um perpendicular.
Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissetriz.
Fizeram planos, equações e diagramas para o futuro sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até aquele dia em que tudo vira afinal monotonia.
Foi então que surgiu o Máximo Divisor Comum frequentador de círculos concêntricos, viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.
Era o triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fracção, a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade e tudo que era espúrio passou a ser moralidade como aliás em qualquer sociedade.

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