quarta-feira, 2 de março de 2016

Fragmento 107


"Passo horas, às vezes no Terreiro do Paço, à beira do rio, meditando em vão. 
A minha impaciência constantemente me quer arrancar desse sossego, e a minha inércia constantemente me detém nele.
Medito, então, em uma modorra de físico, que se parece com volúpia apenas como o sussurro de vento lembra vozes, na eterna insaciabilidade dos meus desejos vagos, na perene instabilidade das minhas ânsias impossíveis. Sofro, principalmente, do mal de poder sofrer.
Falta-me qualquer coisa que não desejo e sofro por isso não ser propriamente sofrer."
(Bernardo Soares - Livro do Desassossego)

Sem comentários: