sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Retalhos da puta da vida

A minha caminhada diária (neste caso, nocturna) de meia hora estava quase vencida.
Apesar disso, a pouco mais de dois ou três minutos de casa, fui abordado, educadamente, por aquela figurinha esbelta, mas pouco atraente - qual adolescente envelhecida pela magreza excessiva e algumas marcas de "horas más":
- Ó vizinho, não há pr'aí um €urito pra eu comer uma sopa ali no Continente?
- Não, tem paciência! - respondi, desconfiando da justa causa do pedido.
Face à veemência da minha recusa, a miúda desafiou:
- Então... e não quer que lhe faça qualquer coisa para ganhar uma notinha?
- Quero! - respondi, acrescentando de imediato:
- Dizes-me a verdade!
- Ok, prontos; eu tou a ressacar e preciso de uma ganza, senão enlouqueço! - confessou.
Em silêncio, dei-lhe os dois únicos euros que levava no bolso.
Em uníssono, gritámos um silêncio reactivo à promiscuidade inquietante dos dependentes e fomos à(s) nossa(s) vida(s).
Eu, à puta da vida.
Ela... à outra!

1 comentário:

Anónimo disse...

Esta "nova" figura anda para aí sempre a ressacar.
Não a conheço.
Vêm aqui parar e por aqui ficam.
Também já me pediu 1 euro para comer uma sandes no Pingo Doce.
Estranha esta dependência...pelas cadeias de supermercados.