sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Lembranças de gaja

Ela passou o primeiro dia empacotando todos os seus pertences em caixotes e malas. No segundo dia, chamou os homens da transportadora que levaram a mudança.

No terceiro dia, sentou-se pela última vez na mesa da sala de jantar, à luz de velas, pôs uma música suave e deliciou-se com uns camarões, um frasco de caviar e uma garrafa de champanhe.

Quando terminou, foi a cada um dos aposentos e colocou alguns pedaços de casca de camarão, besuntados com caviar, nas cavidades dos varais das cortinas. Depois limpou a cozinha e foi-se.

Quando o ex-marido retornou com a nova namorada, tudo estava um brinco nos primeiros dias. Depois, pouco a pouco, a casa começou a feder.
Eles tentaram de tudo: limpando, lavando e arejando a casa..
Todas as aberturas de ventilação foram verificadas à procura de possíveis ratos mortos e os tapetes foram limpos com vapor..
Desodorizantes de ambiente foram pendurados em todos os lugares..
A empresa de combate a insectos foi chamada para colocar gás em todas as canalizações, durante alguns dias, durante os quais tiverem de sair da casa, e no fim ainda tiveram de pagar para substituir a caríssima carpete de lã.

Nada funcionou.

As pessoas pararam de visitá-los.
Os funcionários das empresas de consertos recusavam-se a trabalhar na casa..
Então, como já não suportavam mais o fedor e mudaram dali, colocando a casa à venda

Um mês depois, apesar de terem reduzido o preço da casa em 50%, não conseguiram comprador para a casa fedorenta.
A notícia espalhou-se e nem mesmo corretores de imóveis locais retornavam as ligações.
Finalmente, eles tiveram de fazer um grande empréstimo do banco para comprar uma casa nova.

A ex-esposa ligou para o marido e perguntou como andavam as coisas.
Ele contou-lhe o martírio da casa podre.
Ela escutou pacientemente e, dizendo que sentia muitas saudades da casa antiga, manifestou disponibilidade a reduzir a parte que lhe caberia do acordo de separação dos bens em troca pela casa.

Sabendo que a ex-mulher não tinha ideia de como estava o fedor, ele concordou com um preço que era cerca de 1/10 do que valeria a casa, desde que ela assinasse os papéis naquele dia mesmo. Ela concordou e, em menos de uma hora, na presença dos respectivos advogados, formalizaram o negócio.

Uma semana depois, o homem e sua namorada assistiam, com um sorriso malicioso, os homens da mudança empacotando tudo para levar para a sua nova casa...

...incluindo os varais das cortinas.

(autoria desconhecida)

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