quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Vou ali, venho já!

Naquela noite de terça-feira treze, meio enlouquecido por duas horas sem fumar, Tonico agarrou no casaco e, ao mesmo tempo que batia a porta da rua, gritou para a mulher (Olga) que amamentava o jantar aos filhos (gémeos recém-nascidos):
- Vou comprar tabaco, já venho!
Problema: Tonico só gostava de cigarros Camel e a crise económica fez com que a tabacaria da vilória só vendesse tabaco de enrolar e os vulgares "mata-ratos"; quem quisesse outras marcas, encomendava e aguardava dois ou três dias pela entrega. Mas o pior acontecera: o Camel esgotara no armazém.
Solução: Montar a lambreta e ir estrada fora até encontrar cigarros, mas Camel.Tonico nem pensou duas vezes - ala moço!
No dia seguinte o cartório notarial de portas fechadas, sem qualquer aviso justificativo,  inquietou a vila. Ao sacristão madrugador, juntaram-se o carteiro e a enfermeira, o padre, o vereador e o polícia:
- E o Tonico, o notário, que é feito dele?
Ainda a pergunta pairava no ar, chega o padeiro com notícias mais frescas que as carcaças do cesto:  
- Pessoal, a coisa está esquisita: a dona Olga não sabe do marido!
O que a seguir se passou ninguém (como é habitual nestas incógnitas) sabe explicar: da morte ao suicídio, da fuga ao sequestro, até ao amancebar, tudo justificou a todos o desaparecimento de Tonico.
Durante os quatro dias seguintes, até o bloco noticiário da rádio local abria com as "sem notícias de Tonico".
Domingo, dezoito, cinco da manhã: Tonico entra em casa, despe a roupa tresandando a tabaco (Camel, claro!) deita-se ao lado da mulher e sem qualquer murmúrio deposita-lhe um beijo na testa.
- Tonico, querido! que é que aconteceu? - perguntou Olga.
O "desaparecido" com a voz embargada respondeu:
- Sabes como eu não passo sem os Camel, não sabes meu amor? Pois só consegui comprá-los em Barcelona, vê lá tu! Por isso demorei tanto!
- Ai Tonico, Tonico. Dorme, meu querido, Repousa, que esse teu vício ainda te mata de cansaço homem! - aceitou dona Olga. 



 

1 comentário:

Anónimo disse...

Com histórias(?) destas ainda vais fazer concorrência à Guidinha Rebelo Pinto.

Anónimo (obviamente)