terça-feira, 13 de outubro de 2009

Os abstencionistas


Nestas Eleições Autárquicas, porque não votaram onze mil seiscentos vinte três eleitores do concelho de Peniche ?

O CerrodoCão foi saber e, meus amigos, continuem sentados porque:

- Treze andavam perdidos no estádio da Luz, à procura de uma saída, depois da noitada de coiratos, cerveja e ganza, comemorativa do pré-possível-apuramento da selecção portuguesa para o Mundial de Futebol em 2010;

- Cinquenta e dois foram votar ao Olho Marinho porque ficava mais perto de casa;

- Cento noventa e oito bem que gostariam mas, no outro mundo ninguém tem direito a voto;

- Sessenta e nove ficaram retidos na Berlenga porque estava fola de sudoeste e não houve barco que encostasse à ilha;

- Trinta e sete estavam no mar a pescar com redes e covos, bem junto à costa, aproveitando o facto da vigilância da Polícia Marítima, aos domingos, abrandar (ainda) mais;

- Quarenta e quatro (trabalhadores autárquicos) andavam a acabar os alcatroamentos e pequenas obras municipais iniciadas na sexta-feira anterior;

- Dezanove estavam de serviço permanente no call-center do largo D.Pedro V;

- Vinte e sete queimavam pauzinhos de incenso “alecrim-chinês”, divididos pela ETAR, Guano e Fialho;

- Quatro tentavam acertar as contas do último festival “Sabores do Mar”;

- Quinze ordenavam por ordem alfabética todos os protocolos celebrados em Peniche nos últimos quatro anos;

- Seis faziam pesquisas históricas relacionadas com o futuro do hospital de Peniche;

- Sete davam formação a turistas sobre o trânsito no largo 5 de Outubro;

- Trinta e nove distribuíam propaganda do Rip Curl Pro Search aos surfistas reformados dos bairros do Calvário, Prageira, Fernão Magalhães, Peniche III, Santana, etc;

- Quatro auxiliavam ao estacionamento automóvel no Campo da República;

- Sessenta e seis estavam pendurados em telhados no centro da cidade, com carabinas de pressão d’ar, tentando afastar as gaivotas e as suas desagradáveis descargas daquela zona;

- Oitenta e oito controlavam, à distância e despercebidamente, os dez grupos referidos anteriormente;

- Treze controlavam os anteriores oitenta e oito;

- Mil trezentos e oitenta e nove estavam nas Sezaredas a soprar forte, tentando fazer rodar as ventoinhas das eólicas;

- Quinhentos e sete andavam pelo mar da Almagreira a mergulhar pilhas recarregáveis, aproveitando a energia eléctrica que por ali anda à solta;

- Duzentos oitenta e quatro desistiram de votar por não terem encontrado o cartão de eleitor, depois terem andado três horas à sua procura na gaveta das meias, no bolso do fato de casamento, debaixo do colchão, na caixa da costura e no “sítio das coisas importantes” da casa;

- Cento e cinco (ainda) aguardavam, em fila de espera à porta do palacete de S. Bento, a oportunidade de cumprimentar José Sócrates pela sua vitória no passado 27 de Setembro;

- Seiscentos e oito estavam em peregrinação a Fátima, rogando pelos bons resultados da sua lista;

- Três mil quatrocentos e dezassete ficaram à espera que os fossem buscar, e ninguém apareceu;

- Dois mil quinhentos e vinte aguardaram (em vão) que lhes levassem a urna de voto a casa;

- Trezentos e seis pensaram que, como estavam desempregados, não podiam fazer rigorosamente coisa alguma;

- Sete estiveram o dia inteiro a combater a solidão das brasileiras de coxa grossa, abandonadas em apartamentos na Lourinhã;

- Mil duzentos e dez nunca votam porque a sua religião proíbe-o;

- Setenta e seis porque ainda não perceberam bem o que é isso de eleições;

- Quatrocentos noventa e dois porque só arranjaram trabalho fora do concelho, sem horários fixos, sem contratos, a recibos verdes e sem descanso semanal;

- Um porque esteve todo o dia a ver as postagens absurdas do Cerro do Cão.

Afinal, a abstenção nada teve a ver com o desinteresse das pessoas pela causa pública, ou com a eventual incredibilidade nas candidaturas, nem com a inutilidade do voto, nem, finalmente, com qualquer saturação do regime democrático.


A malta não votou porque não pôde. E prontos!

7 comentários:

Anónimo disse...

SUBLIME!Como leitor assíduo, posso garantir que este é dos melhores posts de sempre aqui no teu cerro. Eu sei que és um homem da Paz e sem azias, mas deves publicá-lo na Voz da Paróquia, pois merece que mais gente o leia, desde os abstencionistas até aos que contam ou caíram no conto do vigário.

Como não estou aí na terra, aproveito para mandar um beijinho para o ditador Amador, que já passou a profissional (pode ser que um dos bufos do Komando de Gestão Burocrática (vulgo KGB)lhe transmita tamanho carinho meu.

D.

Anónimo disse...

Confesso que me fez pensar pq realmente votei no actual presidente. Vcs no PS podiam ter falado mais disto, n? A ser verdade, é uma vergonha...

Xico

Anónimo disse...

o bom perder é uma caracteristica intrinseca do Militante Xuxalista!
há quem diga que a corrupção e o compadrio também, mas isso são só rumores...
Do que as crianças de Almada se livraram! Bolas!

Anónimo disse...

Ou muito me engano ou o comentário anterior marca o regresso do terrível JMac'Gay.
Já acabou a campanha não é? minha doidona.
Ainda bem, que já tinhamos saudades tuas e a malta andava um bocado assustada porque se a coisa não desse tinhamos de ir trabalhar. Ir pro mar e atar redes outra vez, tás a ver?
Vai continua a dar cabo desses intlectuais da m... dos blogues.

Anónimo disse...

GENIAL.

Anónimo disse...

Eu nem sou socialista, mas o número de vezes que vocês falam de Almada, faz-me desconfiar. Parece alguma coisa reprimida da vossa infância. Será que o mito do pequeno-almoço comunista foi, até hoje, mal interpretado? Será que o “comer” era outro? Teria sido um ritual iniciático da velha guarda? Mas eu até vou jogar o vosso jogo. Com que direito falam vocês de maus tratos, quando nem reconhecem os direitos do POVO (termo que vocês gostam tanto) de Cuba, Coreia do Norte, China e, para o caso de algum de vocês ser mais esotérico/espiritual, Tibete? Já para não falar da História, porque do Passado percebem vocês, não é? É um género de Benfica político (espero que sem o mesmo sucesso).

Manso

Anónimo disse...

Simplesmente Fantástico, Jôquim!!
Célia Sónia