sexta-feira, 22 de abril de 2011

Vida cruxificada

Maria e eu conhecemo-nos como se fosse desde sempre. Os nossos sentimentos mútuos remontam a um qualquer dia da nossa vida em que nos cruzámos por qualquer motivo e criámos uma tão grande e genuína amizade que, quando nos encontramos parecem reduzidas a nada a centena de quilómetros e os meses e meses passados sem nos vermos.
Ontem, coisa rara, tinha uma mensagem sua na minha caixa de correio electrónico. Dolorosa, violenta, mas ao mesmo tempo cheia de amor.
Hoje, aproveito o simbolismo do dia, para aqui deixar a minha prova de admiração pela coragem, dedicação e esperança de uma mãe cujo calvário simboliza tão bem muitas da vidas cruxificadas que todos nós conhecemos.

“ … as coisas não estão lá muito bem com a minha cabeça. A minha parte emocional é 90% de mim e quando vai abaixo, é a pique. Deve ser Karma porque está provado que sossego, serenidade e tranquilidade, não são para mim.

Depois das travessuras por que tenho passado e do terrível último ano no desemprego com a casa cheia de filhos e netos, o acaso levou-me a encontrar um bom emprego. Começava até, outra vez, a sentir alívio, serenidade, quase a sentir um cheirinho a felicidade (até já ia ao ginásio há 2 meses) e bum!!! A minha filha do meio foi internada numa clínica de desintoxicação de alcóol e drogas.

Que ela bebia demais, não era segredo, nunca escondeu. Que snifava cocaína, eu até já conseguia admitir; mas, de há 2 meses a esta parte, as coisas complicaram-se. Ela começou a auto-mutilar-se e eu comecei a bater mal. A roer-me por dentro. Numa das últimas disse-lhe que não me chamasse mais para ver sangue, que quando pedisse ajuda para se tratar eu estaria presente.

Assim foi. Fez domingo 8 dias, ligou a pedir por tudo, que não a deixasse sofrer mais, queria curar-se, e, foi nesse dia, que fiquei a saber até que ponto a minha filha tinha descido no mundo da droga e prostituição.

Ando num stress desgraçado, são 10.000 euros para eu pagar e o pai diz que o problema é meu, que eu quis ficar com ela. Por isso, só com a ajuda das minhas 2 cunhadas e de gente amiga é que consegui os 25% exigidos para entrada na clínica.

Entretanto comecei a entrar em pânico. Pânico que ela não cumpra os 3 meses de internamento, pânico do que ela fará quando vier novamente para a rua e pânico porque não consigo arranjar um trabalho em part-time para depois do horário do meu emprego e fins de semana, como já tive de fazer e pânico por ir novamente trabalhar 7 por 7.

Como vês é muito pânico para um corpo 55 (anos, altura e peso). Sinto-me só, sem forças e revoltada com as pessoas mesquinhas do nosso mundo mesquinho.

… e desculpa o desabafo, mas não consigo, no momento, ter uma conversa normal com quem quer que seja.”

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