Ezpertalhão, macaco chefe de bando há mais de vinte anos, sentindo a sua ego-liderança a perder força na aldeia, encheu a cabeça de “macaquinhos” e decidiu:
-Tenho de fazer algo grande; uma coisa que fique marcada na história da terra e na memória da macacada!
Resolveu então que, para tão ambicioso projecto, precisava de uma grande aliança, se possível com um animal maior que ele. Pensou, pensou e exclamou:
- Claro! A mula Arbórea, porque não pensei nela antes?!
Achada a companheira para a “coisa grande”, marcou encontro com a mula e propôs-lhe:
- Ó Arbórea, e se tu te prostituísses com os três machos da aldeia e emprenhasses?
- Dos três? - perguntou a mula.
- Sim, claro; terias de os receber a todos no mesmo dia - desafiou o macaco, acrescentando:
- Mas depois, terás de criar o bicho que nascer entretanto: alimentando-o por forma a que ele cresça forte e saudável para mo ofertares assim que ele fique pronto e capaz de me servir em trabalhos e macacadas.
- E que ganho eu com isso? – quis saber Arbórea.
Ezpertalhão (que tinha a resposta estudada) esclareceu:
- O que ganhas?! Cumpres o teu papel maternal, parindo e criando um animal, filho de três machos ao mesmo tempo, que oferecerás aqui ao velho macaco-chefe! Queres melhor?
O que mais entre ambos se falou não interessa. O importante é que, no dia, hora e local marcados, encontraram-se as partes da aventura: Ezpertalhão, Arbórea e os três machos da aldeia: Gonan, Cassan e Salan - representando o que de melhor havia em cada uma das três raças dominantes da aldeia.
Ora, quando tudo parecia ir de encontro à “coisa grande” sonhada por Ezpertalhão, eis senão quando os três machos - putativos inseminadores do projecto – quiseram saber o resto da combinação da "coisa" (propositadamente escondida por Ezpertalhão e Arbórea):
- E quem será o macho-pai e dono do animal que nascer? Quem pagará a sua criação? E para quem irá ele servir e trabalhar?
Ninguém respondeu. E a “coisa” não funcionou. Apartaram-se e cada um dos actores foi para seu lado: o macaco, furioso por ter perdido a sua grande oportunidade à última hora; a mula, envergonhada por ainda não responder ao apelo maternal, e os três machos, recolhidos, mas convencidos da sua razão implícita.
Conclusão e moral da história: contam as más línguas que, desde então, na aldeia, quando se fala em fazer “coisa grande” alguém sempre aconselha:
"Filho de mula e macho a ninguém serve não, nem por birra da família, nem a macaco espertalhão".